Real Madrid Campeão Mundial 2002

Tóquio agora faz parte do passado. A partir de 2002, a Copa Intercontinental desembarcaria de vez no século 21. Sequer cogitado para uma reforma, o Estádio Nacional não foi um dos escolhidos para sediar a Copa do Mundo naquele ano, pois o Japão preferiu construir praticamente tudo do zero.

Quatro anos antes, surgira o Estádio Internacional, em Yokohama. Com 73 mil de capacidade e bem mais moderna que a sede olímpica de 1964, a casa do local F. Marinos foi a escolhida para fazer a final do torneio de seleções. Diante da nova realidade, Toyota, UEFA e Conmebol viram no novo estádio uma chance para aumentar ainda mais o nível do Mundial Interclubes, tanto o financeiro quanto o do espetáculo em si. Assim, a disputa mudava de sede pela primeira vez em 22 anos.

O primeiro clube europeu a pisar em Yokohama foi também o primeiro a jogar um Mundial, e um dos últimos a atuar em Tóquio: o Real Madrid. O nono título da Liga dos Campeões foi o início da "Era Galáticos" do time madridista, ainda que nem todos eles jogassem no time na época da decisão, vencida por 2 a 1 sobre o Bayer Leverkusen. Antes, o Real já havia derrubado Porto, Bayern de Munique e Barcelona pelo caminho. A conquista ainda marcava os 100 anos de história do clube.

Pela América do Sul, o Olimpia também coroava seu centenário com o tricampeonato da Libertadores. O clube paraguaio eliminou Cobreloa, Boca Juniors e Grêmio, para fazer a história na final contra a surpresa São Caetano: depois de perder a ida em casa por 1 a 0 e sair perdendo a volta fora, virou para 2 a 1 no segundo tempo e venceu por 4 a 2 nos pênaltis.

Campeão da Europa com Zinedine Zidane e Luís Figo no comando do meio-campo, além de Raúl no ataque, e Roberto Carlos e Fernando Hierro na defesa, o Real Madrid dava continuidade aos Galáticos com as chegadas de Esteban Cambiasso e Ronaldo, que seis meses antes do Mundial fazia os dois gols do Brasil na final da Copa contra a Alemanha. A história do Fenômeno em Yokohama não seria somente a do penta. Em 3 de dezembro, ele voltou ao Internacional para ser o nome do jogo contra o Olimpia, que sentiu a pressão de enfrentar uma verdadeira seleção mundial.

Aos 14 minutos do primeiro tempo, Roberto Carlos lançou para Ronaldo, que na entrada da área driblou um zagueiro e abriu o placar após tocar na saída do goleiro Ricardo Tavarelli. O Fenômeno teve outras chances para aumentar a vantagem espanhola, mas foi o reserva Guti quem fez o 2 a 0, aos 38 do segundo tempo, após aparar de cabeça uma bola cruzada por Figo. Sem sofrer perigos em campo, o Real Madrid levava seu terceiro título mundial, o primeiro da nova casa japonesa.


Foto Masahide Tomikoshi

Bayern de Munique Campeão Mundial 2001

Os torcedores conviveram com a disputa de duas competições mundiais entre clubes na virada para o século 21. O torneio da FIFA de janeiro de 2000 foi muito criticado, mas a entidade seguiu com a ideia em frente. Para 2001, a proposta foi a expansão: aumento de oito para 12 participantes, e de duas para três sedes (quatro estádios). Programada para julho e agosto, o Mundial teria os europeus Real Madrid, La Coruña e Galatasaray, e os sul-americanos Boca Juniors e Palmeiras.

A programação estava acertada, porém tudo foi à cabo em maio, quando a ISL - maior parceira da FIFA - decretou falência. Outros problemas de patrocínio fizeram a competição ser adiada para 2003, mas os problemas persistiram e a entidade cancelou tudo vez. Na contramão de tudo, a Copa Intercontinental continuou em alta com sua simplicidade. A edição de 2001 ficou marcada pela despedida de um dos maiores personagens da jornada de 41 anos: o Estádio Nacional de Tóquio.

O Boca Juniors não ficou na mão com o adiamento da FIFA, levou o tetra da Libertadores e conseguiu a vaga para a última decisão na capital japonesa. O time argentino eliminou Deportivo Cali, Junior Barranquilla, Vasco, Palmeiras, e o Cruz Azul na final, nos pênaltis: 3 a 1 depois de vencer e ida e perder a volta por 1 a 0.

Na Liga dos Campeões, o Bayern de Munique superou o trauma de 1999, e também venceu pela quarta vez, passando por Lyon, Manchester United e Real Madrid, antes do Valencia na decisão, igualmente nos pênaltis: 1 a 1 na partida e 5 a 4 nas cobranças.

No dia 27 de novembro, mais de 51 mil pessoas testemunharam o 22º e último Mundial em Tóquio. Boca e Bayern fizeram um jogo de poucas chances de gol e muitas faltas. O trio Juan Riquelme, Guillermo Schelotto e Marcelo Delgado não foi capaz de furar o gol de Oliver Kahn, e ainda sofreu um desfalque nos acréscimos do primeiro tempo, quando Delgado foi expulso por simular um pênalti.

O ataque alemão, que na verdade era composto pelo brasileiro Élber e o peruano Claudio Pizarro, também não conseguiu passar por Óscar Córdoba nos 90 minutos. O gol do título do Bayern de Munique marcado, de um jeito chorado aos quatro do do segundo tempo da prorrogação. Bixente Lizarazu bateu escanteio, Thorsten Fink cabeceou, a defesa argentina não conseguiu afastar, e a bola sobrou para o ganês Samuel Kuffour, que fez 1 a 0 e confirmou o bicampeonato mundial ao clube bávaro. Com certas emoções, o maior dos palcos mundialistas recebeu um desfecho digno.


Foto Imago/HJS

Boca Juniors Campeão Mundial 2000

Nada mudou no planejamento de Conmebol, UEFA e Toyota em razão da criação do Mundial de Clubes da FIFA. A Copa Intercontinental seguiu a programação normal e, no ano 2000, recebeu duas das camisas mais pesadas que o futebol já viu. O Japão falaria espanhol no final do século 20.

Terceiro lugar no Mundial do Brasil em janeiro, o Real Madrid conquistou sua oitava Liga dos Campeões meses depois. No mata-mata europeu, o time merengue derrubou Manchester United, Bayern de Munique, e o Valencia na decisão, com vitória por 3 a 0.

A Libertadores via o surgimento de uma nova dinastia local naquele 2000. O Boca Juniors chegou ao terceiro título sul-americano com Carlos Bianchi no comando técnico e um jovem Juan Roman Riquelme no meio-campo. O clube xeneize eliminou Universidad Católica, El Nacional, River Plate e América do México, antes de bater o Palmeiras na final, em três atos: 2 a 2 na ida, 0 a 0 na volta e 4 a 2 nos pênaltis.

O Mundial mais famoso foi disputado em 28 de novembro. Os dois times chegaram ao Nacional de Tóquio com ótimos conjuntos. De um lado, Raúl, Fernando Hierro, Iker Casillas, Roberto Carlos e Luís Figo. Do outro, Riquelme, Martín Palermo, Óscar Córdoba e José Basualdo. Tantas estrelas em campo traziam a ideia de uma partida movimentada. Mas poucos imaginariam que ela seria decidida em tão pouco tempo.

Já aos três minutos do primeiro tempo apareceu o cara do jogo (e o futuro dono do carro). Palermo abriu o placar ao Boca depois de escorar cruzamento de Marcelo Delgado pela ponta-esquerda. Foi o primeiro toque do atacante na bola, na primeira chance do time argentino. Aos seis, Riquelme deu cabo de um contra-ataque com um lançamento direto do campo defensivo. A bola caiu no pé de Palermo, que ganhou  na corrida contra o lateral Geremi e tocou na saída do goleiro Casillas. Em seis minutinhos, dois gols de El Loco praticamente decidiram o rumo do Mundial.

O Real conseguiu descontar o placar tão rápido quanto sofreu os golpes. Aos 12 da primeira etapa, Roberto Carlos aproveitou uma bola mal cortada de Hugo Ibarra para fazer um golaço da risca esquerda da grande área. Depois do 2 a 1 relâmpago, muitos pensaram que a partida teria uma chuva de gols, mas a bola não tocaria mais nenhuma das redes até o apito final. Melhor para o Boca Juniors, que venceu seu segundo título mundial e voltou à primeira fila do futebol depois de 22 anos. E foi uma volta para durar quase toda a década.


Foto Shaun Botterill/Allsport/Getty Images

Corinthians Campeão Mundial 2000

A Copa Intercontinental e o seu êxito em apontar um campeão mundial sempre despertou na FIFA um tipo de “ciúme”. A entidade buscou, por diversas vezes, algum tipo de parceria e a inclusão de outras confederações no torneio. Só que nunca houve negócio com Europa e América do Sul.

Eis que, na virada do milênio, a FIFA resolveu montar a sua própria competição, anual e paralela à UEFA, Conmebol e Toyota. A ideia, levantada em 1993 e aprovada em 1997, foi o último grande ato de João Havelange na presidência da entidade - e o primeiro de um ainda candidato Joseph Blatter, que viria a ser eleito em 1998.

O Mundial de Clubes estava previsto para acontecer no fim de 1999, e o Brasil acabou (com muito lobby) escolhido como sede. Mas, devido à temporada brasileira terminar somente na semana do Natal, a disputa foi postergada para janeiro de 2000.

Cada confederação indicou seu representante campeão. A UEFA convocou o Manchester United (vencedor da Liga dos Campeões); a Conmebol optou pelo Vasco (vencedor da Libertadores 1998); a Concacaf (América do Norte e Central) designou o mexicano Necaxa; a CAF (África) trouxe o marroquino Raja Casablanca; a AFC (Ásia) foi representada pelo saudita Al-Nassr; e a OFC (Oceania) teve o australiano South Melbourne. Para fechar oito equipes, a FIFA convidou o Real Madrid, campeão mundial de 1998, e a CBF chamou o Corinthians, campeão brasileiro do mesmo ano e que viria a vencer também em 1999.

Embalado e com um ótimo time, o Timão jogou a fase de grupos no Morumbi. Sua estreia foi contra o Al-Nassr, o qual venceu por 2 a 0. No jogo seguinte, contra o Real Madrid, empate por 2 a 2 e um histórico show de Edílson, autor dos dois gols sobre o time espanhol - o segundo com direito a janelinha nas pernas do volante Christian Karembeu. Por fim, 2 a 0 sobre o Raja Casablanca classificou o Corinthians à decisão, que liderou a chave com sete pontos e quatro gols de saldo. O Real foi o segundo com os mesmos sete pontos, mas saldo três.

A final foi jogada contra o Vasco, que vinha de ótimas vitórias sobre o Manchester United e os adversários restantes. Em 120 minutos, nada de gols. Nos pênaltis, Freddy Rincón, Fernando Baiano, Luizão e Edu converteram para os corintianos, enquanto só três vascaínos acertaram. Marcelinho Carioca teve a chance de fazer o gol do título, mas perdeu a última cobrança.

Só que a sorte do dia 14 de janeiro de 2000 estava ao lado do Corinthians, e Edmundo também errou o último chute carioca. Por 4 a 3, o Alvinegro chegava ao seu primeiro título mundial, uma taça especial no coração da fiel torcida. E apesar do sucesso da FIFA na organização, o Mundial de Clubes nascia com mais dúvidas do que certezas. Como seria em 2001?


Foto Arquivo/Estadão

Manchester United Campeão Mundial 1999

Inventores do futebol moderno, os britânicos se achavam, durante muitos anos, importantes demais para disputar competições contra clubes e seleções de outros países. Principalmente os ingleses, que sobressaíam diante dos escoceses, galeses e irlandeses. Para eles, o mundo era composto apenas por suas duas ilhas. A figura só mudou nos anos 50, e o preço pela arrogância foi caro. Na Copa Intercontinental, demorou quase quatro décadas para que um time do Reino Unido chegasse ao título.

O feito coube ao inglês Manchester United em 1999, que havia sido vice em 1968. Já com 13 anos de comando no clube, Alex Ferguson encaixou uma ótima equipe, com David Beckham, Ryan Giggs, Paul Scholes e Gary Neville. Mas o heroísmo no título na Liga dos Campeões da temporada coube a dois reservas: Teddy Sheringham e Ole Solskjaer. Foram eles os autores dos gols na final contra o Bayern de Munique, uma histórica virada de 2 a 1 nos acréscimos do segundo tempo. Antes, os Red Devils já tinham deixado para trás Barcelona, Internazionale e Juventus.

O oponente inglês no Mundial veio do Brasil, que conseguia a terceira taça consecutiva na Libertadores. O Palmeiras enfim chegava ao seu primeiro título com bem lembradas eliminações sobre Vasco, Corinthians e River Plate. Na decisão contra o Deportivo Cali, derrota na ida por 1 a 0 e vitória na volta por 2 a 1 levou o Verdão a precisar vencer também nos pênaltis. E conseguiu fazê-lo, por 4 a 3.

O Nacional de Tóquio recebeu o Mundial de 1999 no dia 30 de novembro. O Palmeiras não devia nada ao United, pois contava com grandes jogadores, como Alex, Zinho, Paulo Nunes, Francisco Arce e César Sampaio. O foco estava todo no time inglês, mas não houve facilidade pelo lado brasileiro, que teve quase o dobro de finalizações durante os 90 minutos.

Dois lances decidiram o título em favor do Manchester United. Aos 35 minutos do primeiro tempo, Giggs fez boa jogada na ponta esquerda e cruzou na área. O goleiro Marcos saiu mal, não achou a bola, e ela sobrou para Roy Keane finalizar e abrir o placar. Aos nove do segundo tempo, Evair lançou em profundidade para Alex, que saiu de trás da defesa, ficou cara a cara com Mark Bosnich e empatou o jogo. Ou quase isso, pois o lance acabou mal anulado pelo bandeirinha. Até hoje os palmeirenses reclamam do lance, e com razão.

O fato é que o 1 a 0 permaneceu até o fim, apesar da pressão brasileira. E o United, que não mostrou muita coisa no Japão, ficou com o título inédito não só para si, mas também para toda a Inglaterra, que via na quinta tentativa um clube seu ser campeão mundial.


Foto Masahide Tomikoshi

Real Madrid Campeão Mundial 1998

Uma vida inteira pode ser colocada dentro de quantos anos? Para a maioria das pessoas, em mais do que 38. Mas para os torcedores do Real Madrid, 38 invernos foram mais do que suficientes para criar um sentimento nostálgico geral. Durou de 1960 a 1998 o período em que o clube merengue esteve fora do topo do futebol mundial.

Neste meio tempo, o Real co-dominou com o Barcelona o futebol espanhol e levou só três taças europeias: a longínqua Copa dos Campeões de 1996 e as Copas da UEFA de 1985 e de 1986. Milionário, o clube formou uma dos primeiros elencos mundiais da era pós-Lei Bosman. Só quatro espanhóis entraram em campo na final da Liga dos Campeões de 1998, contra a Juventus. O Real Madrid venceu por 1 a 0 e conquistou o sétimo título continental e a vaga ao Mundial. Antes, o time impôs eliminações sobre Feyenoord, Dínamo de Kiev e Monaco.

Ao mesmo tempo que o Real conseguia um retorno de 32 anos à Copa Intercontinental, um grande esquadrão brasileiro chegava ao primeiro título na Libertadores. O Vasco, que tinha uma remota aparição na Copa Rio de 1951 e o título sul-americano de 1948, venceu os dois jogos da decisão contra o Barcelona de Guayaquil, por 2 a 0 na ida e por 2 a 1 na volta. Para chegar à conquista, o cruz-maltino bateu justamente os últimos três campeões do torneio: Cruzeiro, Grêmio e River Plate.

O encontro no Mundial aconteceu no dia 1º de dezembro. O Real Madrid possuía o favoritismo, mas o Vasco chegava com um grupo unido, e que não daria sossego em campo. E diferentemente das três finais anteriores no Nacional de Tóquio, a partida foi lá e cá. Dois fatores foram determinantes para a decisão do título em favor do time espanhol: a sorte e a habilidade de um jovem ídolo.

Os dois times criavam oportunidades, quando uma infelicidade vascaína levou ao primeiro gol do Real. Aos 25 minutos do primeiro tempo, Clarence Seedorf inverteu uma bola para Roberto Carlos no lado esquerdo. O lateral avançou e arriscou a finalização de fora de área. A bola iria para fora, não fosse o desvio do volante Nasa, que tentou afastar de cabeça mas atirou para dentro do gol defendido por Carlos Germano.

Aos poucos, a equipe brasileira equilibrou a partida, chegando ao empate aos 11 do segundo tempo, quando Juninho Pernambucano aproveitou um rebote dado pelo goleiro Bodo Illgner e soltou uma bomba na entrada da grande área. Mas o dia era espanhol. Aos 38, Raúl recebeu lançamento em velocidade, deixou Vítor e Odvan no chão com dois dribles, e marcou 2 a 1 sem chances para a defesa de Germano. E 38 anos depois, o Real Madrid conseguia ser novamente o campeão mundial.


Foto Arquivo/Associated Press