A Copa Intercontinental atingiu o auge da crise entre 1974 e 1975. O calote dado pelo Bayern de Munique um ano antes bagunçou completamente o cronograma da UEFA e da Conmebol, atrasando a edição de 1974 para abril de 1975. Assim, a solução foi realizar duas edições no mesmo ano.
Mas, como azar pouco é bobagem, calhou de os campeões continentais se repetirem: o Independiente foi hexa da Libertadores e o Bayern foi bicampeão da Copa dos Campeões. Outra vez alegando problemas de agenda, o time alemão declinou. E o vice também não ajudou, pois o inglês Leeds United recusou o convite. Sem solução, a alternativa foi cancelar o Mundial de 1975.
Eis que chega 1976. O Bayern manteve o domínio europeu ao ser tricampeão, vencendo o Saint-Étienne por 1 a 0 na final. Obviamente, os alemães não se manifestaram sobre o Mundial, esperando a definição da Libertadores. Mas as notícias sul-americanas foram boas: o Cruzeiro foi campeão após três jogos contra o River Plate. No primeiro, vitória brasileira por 4 a 1; no segundo, derrota por 2 a 1; e no terceiro, vitória por 3 a 2.
Misteriosamente, os problemas de calendário desapareceram, e o Bayern finalmente confirmou presença no Mundial. Nos bastidores, o motivo da aceitação da vaga só na terceira vez seria o fato de que os brasileiros eram considerados menos violentos que os argentinos, tanto jogadores quanto torcedores.
O ressurgimento do Mundial teve início em 23 de novembro, no Estádio Olímpico de Munique. Debaixo de muito frio e neve, apenas 22 mil torcedores compareceram à partida. O clima favoreceu o Bayern, que controlou todo o jogo contra o Cruzeiro. Nelinho, Palhinha, Joãozinho, Jairzinho e Dirceu Lopes não brilharam, e os alemães marcaram dois gols no segundo tempo: aos 35 minutos, com Gerd Müller, e aos 37, com Jupp Kappellmann. Os 2 a 0 deram grande tranquilidade ao Bayern.
O segundo jogo da decisão ocorreu em 21 de dezembro, no Mineirão, em Belo Horizonte. Mais de 123 mil pessoas foram ao estádio e fizeram de tudo para empurrar o Cruzeiro. Os brasileiros tentaram de todas as formas, mas o time alemão era a base da seleção campeã da Copa do Mundo de 1974, além de contar com nomes que integrariam a vice de 1982. Sepp Maier garantiu o bicho do Bayern com ótimas defesas, e o 0 a 0 manteve o placar naquela noite de quase Natal.
Com o regulamento embaixo do braço, o Bayern de Munique conquistou o Mundial pela primeira vez. Já para o Cruzeiro, sobrou somente o feito de colocar o Brasil na competição depois de 13 anos — e uma sina que teria um capítulo surreal 38 anos depois: ver alemães fazendo festa no Mineirão.