Estrela Vermelha Campeão Mundial 1991

O mundo estava mudando no começo dos anos 90. A Cortina de Ferro, que dividia os lados capitalista e socialista, foi derrubada nessa época, e o futebol não ficou alheio a isso. A história da Copa Intercontinental de 1991 tem muitas ligações com esse contexto — mas ela começa ainda em 1990.

O Estrela Vermelha, de Belgrado, era um dos principais clubes de uma Iugoslávia prestes a se esfacelar. Em 13 de maio, a equipe enfrentou o Dínamo Zagreb pelo campeonato local. Fora de casa, os torcedores do clube começaram a entoar cantos nacionalistas sérvios em provocação aos croatas, que revidaram. Não demorou para que os ultras invadissem o lado rival e iniciassem uma briga generalizada, que se estendeu à polícia, ao campo e até aos jogadores. Um cenário de guerra que acelerou o conflito civil que estava prestes a estourar. A partida jamais terminou, mas isso não tirou o título do Estrela, que garantiu vaga na Copa dos Campeões Europeus da temporada 1990/91.

Com cinco sérvios, dois montenegrinos, dois macedônios e um croata no time-base (além de um romeno), o Estrela Vermelha conquistou o título europeu com sobras, eliminando Rangers, Dínamo Dresden e Bayern de Munique antes de bater o Olympique de Marselha na final, nos pênaltis: 0 a 0 no tempo normal e 5 a 3 nas cobranças. Foi uma das últimas grandes glórias de um território que, nos dez anos seguintes, mergulharia em sangue.

Só um iugoslavo sorria de verdade em 1991: Mirko Jozic, técnico croata do Colo-Colo. O clube chileno foi campeão da Libertadores, superando Universitario, Nacional-URU, Boca Juniors e, na decisão, o Olimpia, com 0 a 0 na ida e 3 a 0 na volta.

O Mundial Interclubes aconteceu em 8 de dezembro, no Estádio Nacional de Tóquio. O domínio do Estrela ficou evidente desde os primeiros minutos. Aos 19 do primeiro tempo, saiu o primeiro gol iugoslavo: Dejan Savicevic avançou da ponta direita para o meio e lançou Vladimir Jugovic, que entrou na área e bateu na saída do goleiro Daniel Morón. Aos 42, Savicevic foi expulso, mas o ritmo dos vermelhos permaneceu o mesmo.

Aos 13 da etapa final, Jugovic fez o segundo em lance de três tempos, aproveitando rebote após um chute dele próprio e outro de Darko Pancev. Aos 27, Sinisa Mihajlovic arrancou em contra-ataque e cruzou pela esquerda para Pancev, que finalizou para o gol aberto e fechou o placar em 3 a 0.

O título mundial do Estrela Vermelha foi incontestável — e a última grande alegria de um povo já desunido. A temporada 1991/92 na Iugoslávia não foi concluída, e o clube teve de defender o título europeu jogando na Bulgária e na Hungria. A guerra civil se estenderia até 2001, fragmentada em diversos conflitos espalhados por Eslovênia (1991), Croácia (1992), Bósnia (1995) e Kosovo (1999).


Foto Masahide Tomikoshi

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