Racing Campeão Mundial 1967

O Mundial de 1967 marcou a primeira tentativa de aproximação entre UEFA, Conmebol e FIFA. A pedido da Concacaf e da AFC, que estavam com competições continentais recém-criadas, o presidente da FIFA, Stanley Rous, sugeriu a inclusão de ambas no torneio. No entanto, UEFA e Conmebol recusaram a proposta — a primeira de muitas negativas que se repetiriam até a década seguinte.

Assim, a edição manteve-se inalterada, e contou com dois clubes estreantes. Pela Europa, o Celtic, da Escócia, conquistou a Copa dos Campeões ao vencer a Internazionale, de virada, por 2 a 1. Pela América do Sul, o Racing, da Argentina, garantiu sua primeira e única Libertadores, derrotando o Nacional do Uruguai em uma final equilibrada: após dois empates sem gols na ida e na volta, venceu por 2 a 1 na partida extra.

A disputa intercontinental começou no dia 18 de outubro, no Hampden Park, em Glasgow. O primeiro confronto entre Celtic e Racing foi truncado, com ambos os lados abusando das faltas e jogando de maneira dura. Empurrado por mais de 83 mil torcedores, o time escocês venceu por 1 a 0, gol de McNeill no segundo tempo.

Em 1º de novembro, o estádio Juan Perón, em Avellaneda, recebeu 120 mil pessoas para o jogo da volta. O Celtic abriu o placar com Gemmell, aos 23 minutos, e esteve perto de definir o título. Mas o Racing empatou com Raffo aos 34, e virou logo no início do segundo tempo, com Cárdenas. O 2 a 1 forçou o jogo desempate. A partida, porém, ficou marcada por episódios tumultuados: provocação durante a cobrança do pênalti que originou o empate, invasão de jornalistas no gramado, vestiário escocês invadido por torcedores e até briga entre argentinos e uruguaios do lado de fora do estádio.

O desempate aconteceu no Centenario, em Montevidéu, no dia 4 de novembro. Sob protesto, o Celtic entrou em campo apoiado por 60 mil uruguaios. Outros cinco mil argentinos cruzaram o Rio da Prata para apoiar o Racing. A partida foi violenta, com os dois times exagerando nas entradas duras. O gol do título foi marcado novamente por Cárdenas, aos dez minutos do segundo tempo.

A tensão do 1 a 0 persistiu após o apito final. Os jogadores do Racing não puderam comemorar em campo, pois objetos eram arremessados pelos uruguaios nas arquibancadas. A taça foi entregue no vestiário. Os escoceses, por sua vez, retornaram à Europa com a promessa de nunca mais jogar na América do Sul. Todos os episódios de violência nos dois últimos jogos deram início a uma sequência de polêmicas que marcariam os anos seguintes do torneio.


Foto Arquivo/El Gráfico

Peñarol Campeão Mundial 1966

Em seis temporadas de Mundial, ainda poucos clubes tinham tido o privilégio de participar. Apenas sete equipes haviam recebido essa chance até então. Esse número não foi alterado em 1966, pois o torneio daquele ano repetiria a final da primeira edição, em 1960, entre Peñarol e Real Madrid.

O clube carbonero conquistou seu terceiro passaporte para a Copa Intercontinental após uma dificílima final na Libertadores, contra o River Plate. Venceu a ida por 2 a 0, perdeu a volta por 3 a 2, e só foi campeão após a prorrogação do jogo de desempate, vencido por 4 a 2. Enquanto isso, os merengues garantiam sua sexta Copa Europeia e a segunda presença no Mundial. Na decisão, o Real virou sobre o Partizan, da Iugoslávia, vencendo por 2 a 1.

Assim como na final anterior, Peñarol e Real Madrid começaram pela América do Sul. Em 12 de outubro, o Centenario de Montevidéu recebeu a partida de ida. Mesmo já tendo o título de 1961, o time uruguaio ainda guardava atravessado o gosto amargo da derrota para os espanhóis seis anos antes, e a chance de revanche era real. Pois não deu outra. Derrotado em 1960, Spencer lavou a alma com dois gols, aos 39 minutos do primeiro tempo e aos 34 do segundo. Mais de 58 mil torcedores assistiram à vantagem ser construída.

Apesar dos 2 a 0 na ida, o Peñarol precisava evitar a partida de desempate. No dia 26 de outubro, o Santiago Bernabéu recebeu mais de 71 mil pessoas para o segundo confronto. Poucos jogadores de 1960 ainda atuavam pelo Real Madrid, enquanto o Peñarol mantinha uma base mais sólida. Desta vez, o ataque charrua contava com um nome de peso, além de Spencer e Joya: Pedro Rocha. O trio fazia o impossível nos gramados sul-americanos, e repetiu o feito em Madri. Joya não marcou, mas ajudou a infernizar a defesa espanhola. Rocha abriu o placar aos 28 minutos do primeiro tempo, de pênalti. Aos 37, Spencer ampliou. Com outro 2 a 0, o Peñarol conquistava o bicampeonato mundial.

As disputas de 1960 e 1966 são lembradas com carinho pelas duas torcidas até hoje. No entanto, o que parecia ser uma presença frequente para os dois clubes no torneio mundial não se confirmou. O Peñarol levaria 16 anos para voltar a uma final intercontinental. Já o Real Madrid, ainda mais: 32 anos. E refletindo o crescente distanciamento estrutural entre Europa e América do Sul ao longo das décadas seguintes, apenas o clube espanhol conseguiu manter a hegemonia após um hiato tão longo.


Foto Arquivo/Peñarol

Internazionale Campeã Mundial 1965

A década de 60 chega à metade com a Copa Intercontinental ganhando muita força. Apesar de ela ocorrer com certa clandestinidade, o torneio continuava ganhando alto status entre os torcedores, principalmente os sul-americanos.

O ano de 1965 trouxe o replay da última disputa mundial. A Internazionale conquistou o bicampeonato europeu com vitória por 1 a 0 sobre o Benfica. O clube ainda conseguiu algo raro na competição: foi campeão jogando em seu próprio estádio, o San Siro. Um mês antes do título da Inter, o Independiente também alcançava sua segunda Libertadores, após vencer o Peñarol em final decidida em melhor de três jogos: vitória por 1 a 0 na ida, derrota por 3 a 1 na volta, e goleada por 4 a 1 no desempate.

De um lado, a consolidação. Do outro, a chance de revanche. Nerazzurri e Rojos voltaram a campo pelo título mundial a partir do dia 8 de setembro. Desta vez, a ida foi em Milão. Cerca de 75 mil torcedores assistiram ao primeiro tira-teima entre as equipes. Jogando o melhor futebol da Europa — e quiçá do planeta —, a Internazionale não deu nenhuma chance ao time argentino, nem mesmo para sonhar com uma vingança. Logo aos três minutos de partida, o espanhol Joaquín Peiró abriu o placar para a equipe italiana.

Desorientado com o gol sofrido tão cedo, o Independiente virou presa fácil em campo. Aos 22 minutos, Sandro Mazzola ampliou a contagem. Ainda houve espaço para mais: aos 14 minutos do segundo tempo, Mazzola marcou novamente. O resultado de 3 a 0 encaminhava o bi italiano, mas os argentinos ainda tinham uma certa vantagem: vencer a volta por qualquer placar e forçar o desempate em casa, tal como ocorreu ao contrário um ano antes.

La Doble Visera, em Avellaneda, recebeu o jogo de volta no dia 15 de setembro. A Internazionale entrou em campo com muita precaução, principalmente devido à fama de que os argentinos eram mais violentos quando em desvantagem. Mas a partida transcorreu sem anormalidades. Quanto mais o tempo passava, mais difícil ficava a tarefa de reverter o quadro para o Independiente. Ao mesmo tempo, a Inter segurava a pressão com maestria. O 0 a 0 jamais sairia do placar daquele jogo. Diante de 80 mil argentinos frustrados, o Mundial parou novamente nas mãos do time nerazzurri.

A merecida conquista do bicampeonato intercontinental da Inter foi o ponto mais alto de uma época muito feliz do clube. Além dos quatro títulos entre Mundial e Copa Europeia, o grupo de Mazzola, Peiró, Luis Suárez, Jair da Costa e Mario Corso conquistou também três Campeonatos Italianos, nas temporadas 1962/63, 1964/65 e 1965/66.


Foto Arquivo/Internazionale

Internazionale Campeã Mundial 1964

A quinta edição da Copa Intercontinental deu início a uma pequena rivalidade entre dois clubes da Itália e da Argentina. Internazionale e Independiente despontaram como as maiores forças da Europa e da América do Sul ao mesmo tempo, protagonizando não somente uma, mas duas finais mundiais.

A Inter de Milão conquistou seu primeiro título europeu depois de derrotar o Real Madrid na final, por 3 a 1. Já o Independiente tornou-se o primeiro clube argentino a vencer a Libertadores, superando o Nacional do Uruguai com um empate em 0 a 0 na ida e uma vitória por 1 a 0 na volta. Os dois times já eram forças tradicionais em seus países, e esses títulos continentais foram os primeiros de uma história que seria escrita nos dois anos seguintes.

O primeiro jogo do Mundial aconteceu no dia 9 de setembro, seguindo o rodízio das sedes, no antigo estádio de La Doble Visera, em Avellaneda. A partida foi truncada e de poucas oportunidades. A Internazionale não conseguiu superar o Independiente e seus 65 mil torcedores, e perdeu por 1 a 0. O gol argentino foi marcado pelo atacante Mario Rodríguez.

Perder por um ou por dez não fazia diferença, segundo as regras da época. Portanto, a Inter precisava vencer o segundo jogo, por qualquer placar, para forçar a partida de desempate. No dia 23 de setembro, o San Siro (Giuseppe Meazza só seria homenageado com o nome do estádio em 1980) contou com mais de 50 mil tifosi para empurrar o time. E o clube nerazzurro conseguiu virar o confronto com alguma autoridade. O ídolo Sandro Mazzola abriu o placar com oito minutos de jogo. Aos 39, Mario Corso ampliou e cravou o resultado final de 2 a 0.

A partida extra foi disputada em 26 de setembro e, pela primeira vez, o palco seria neutro. O estádio escolhido pela UEFA foi o Santiago Bernabéu, em Madri. Cerca de 45 mil pessoas assistiram a mais uma partida tensa. A inversão da vantagem permitia à Internazionale jogar por empates: um no tempo normal e outro na prorrogação. Sem conseguir furar a defesa do Independiente nos 90 minutos, os 30 minutos extras foram necessários. No fim, a Inter não precisou recorrer ao regulamento: aos cinco minutos do segundo tempo da prorrogação, Corso marcou o gol da vitória por 1 a 0 e garantiu o título para o nerazzurri.

Assim, uma breve freguesia tinha início no Mundial. Mas, para dizer que nem todos os argentinos ficaram tristes, havia um na casamata da Internazionale que comemorou muito. O técnico da equipe era Helenio Herrera. Nascido em Buenos Aires, ele ainda criança foi morar no Marrocos, onde se tornou jogador. Depois fez sucesso na França, nação pela qual se naturalizou e se notabilizou como treinador.


Foto Arquivo/Internazionale

Santos Campeão Mundial 1963

Não existiu time melhor que o Santos na primeira metade dos anos 60. O clube de Pelé, Coutinho e Pepe era reverenciado por todos os lugares onde jogava. Com taças e mais taças empilhadas, o ápice se deu na conquista das duas Copas Intercontinentais, em sequência.

O Peixe chegou à segunda disputa após um novo título da Libertadores, com duas duras vitórias sobre o Boca Juniors, por 3 a 2 em casa e por 2 a 1 fora. Seu oponente no Mundial foi o Milan, inédito campeão da Copa dos Campeões Europeus. Os Rossoneros derrotaram o Benfica na decisão, de virada, por 2 a 1.

Se a conquista santista de 1962 foi tida como relativamente tranquila, a de 1963 passou longe disso. O primeiro jogo foi realizado no dia 16 de outubro, no Estádio San Siro, em Milão. Na arquibancada, 52 mil italianos contra o Santos. Em campo, mais nove. Os outros dois eram brasileiros mesmo. A dupla de ataque do Milan era composta por José Altafini (o Mazola) e Amarildo, ambos vencedores da Copa do Mundo com a seleção canarinho. Eles deram muito trabalho, principalmente o segundo, autor de dois gols.

O placar da ida foi uma complicada derrota por 4 a 2. Na ordem: o time italiano marcou duas vezes no primeiro tempo, Pelé descontou no começo do segundo, eles marcaram mais duas vezes na sequência, e o Rei descontou novamente, de pênalti, no fim do jogo. A participação dele no Mundial acabaria ainda na Itália. Entre a ida e a volta, o atacante lesionou-se.

Sem Pelé no ataque santista, o segundo jogo foi em 14 de novembro, em um Maracanã com mais de 132 mil pessoas. E o Milan quase estragou tudo marcando dois gols em sequência na primeira etapa (um do Altafini). Na raça, o Santos virou no segundo tempo, com dois gols de Pepe, um de Almir e outro de Lima. Até hoje, os milanistas criticam a arbitragem da partida, feita pelo argentino Juan Brozzi. Mas o fato é que o 4 a 2 a favor brasileiro forçou a partida extra.

O desempate aconteceu em 16 de novembro, também no Rio de Janeiro e também com um público enorme no Maracanã: 120 mil. Os dois times atuaram nervosos, até mesmo com certa violência em algumas jogadas, o que levou à expulsão de dois defensores, o rossonero Cesare Maldini e o alvinegro Ismael. Devido à tensão, os gols rarearam. O tento solitário foi marcado pelo zagueiro Dalmo, de pênalti, aos 31 minutos do primeiro tempo. No restante do tempo o Santos se segurou, soube controlar a pressão italiana e chegou ao bi mundial com a vitória por 1 a 0.


Foto Arquivo/Estadão

Santos Campeão Mundial 1962

A terceira edição da Copa Intercontinental foi a primeira com a presença de um clube brasileiro. O mérito coube ao Santos, que em 1962 vivia o auge de um esquadrão lembrado até hoje como um dos melhores da história.

Com os gênios Pelé, Coutinho, Pepe, Zito e Mauro Ramos, o Peixe escalou até o topo a partir da conquista da Taça Brasil de 1961. Na Libertadores da temporada seguinte, o clube conseguiu o título em uma sofrida final contra o Peñarol, batido somente na partida extra por 3 a 0.

O adversário do Santos foi o Benfica, que pela segunda vez marcava presença no Mundial. O time português foi bicampeão europeu após vencer de virada o Real Madrid por 5 a 3. Os dois jogos da decisão foram realizados em um intervalo de 22 dias. O primeiro aconteceu em 19 de setembro, no Rio de Janeiro. Mais de 85 mil torcedores foram ao Maracanã acompanhar um desfile de craques. De um lado, Pelé. Do outro, Eusébio.

Mas só um deles brilhou naquela noite — e foi o brasileiro. Do alto de seus 21 anos, o Rei abriu o placar para os alvinegros aos 31 minutos do primeiro tempo. Todavia, as Águias não estavam dispostas a dar mole como no vice anterior e partiram para o empate aos 13 do segundo tempo, com Santana. Aos 19, Coutinho desempatou. Aos 40 minutos, Pelé novamente marcou para tranquilizar a arquibancada. A tranquilidade virou sufoco aos 42, quando Santana fez seu segundo gol para os portugueses. A vitória por 3 a 2 dava uma pequena vantagem ao Santos, que só precisava não perder na volta.

O segundo jogo foi disputado em 11 de outubro, no Estádio da Luz, em Lisboa. A expectativa dos 73 mil apoiadores era de que o Benfica pudesse forçar o desempate. Porém, o que se viu foi um verdadeiro show tupiniquim. Com 15 minutos de partida, Pelé já abria o placar para o Peixe. E, aos 25, anotava o segundo gol. O controle da situação era completo, tanto que os gols surgiam com facilidade: aos 3 do segundo tempo, Coutinho fez o terceiro; aos 19, Pelé marcou o quarto; e aos 32, Pepe assinalou o quinto.

Com nove dedos postos na taça, o Santos diminuiu o ritmo no fim, o que possibilitou dois gols ao Benfica — aos 40 minutos, com Eusébio, e aos 44, com Santana. Com seu hat-trick, Pelé definitivamente vestia a coroa de melhor futebolista. Para muitos, sem tirá-la até hoje.

Por fim, uma curiosidade: este 5 a 2 que deu o primeiro Mundial ao Santos também foi o resultado com mais gols marcados em uma decisão até a final de 2022.


Foto Arquivo/Santos

Peñarol Campeão Mundial 1961

Depois do êxito que foi a primeira edição da Copa Intercontinental, um princípio de conflito de interesses foi deflagrado entre a FIFA e a UEFA/Conmebol em 1961. Logo nos primeiros meses de mandato como presidente, Stanley Rous recusou-se a dar status oficial à competição e ainda exigiu que as confederações e os clubes deixassem claro o caráter amistoso da mesma. E foi isso que aconteceu nos primeiros anos do Mundial: o principal torneio “não oficial” do momento.

Dois esquadrões compuseram a disputa em 1961. Representando a Europa, o português Benfica foi o primeiro time a desbancar o Real Madrid na Copa dos Campeões. As Águias chegaram ao primeiro título após uma apertada vitória por 3 a 2 sobre o espanhol Barcelona. Pela América do Sul, o Peñarol conquistou o bicampeonato da Libertadores depois de passar pelo Palmeiras na decisão, vencendo por 1 a 0 no primeiro jogo e empatando por 1 a 1 no segundo.

Conmebol e UEFA tinham um miniacordo na época: a cada campeonato, os mandos das partidas se alternariam entre os continentes. Como a primeira disputa começou na América e acabou na Europa, o caminho na segunda seria o inverso. Assim, a primeira partida do Mundial foi jogada no Estádio da Luz, em Lisboa, no dia 4 de setembro. Cerca de 40 mil torcedores viram Mário Coluna marcar o gol da vitória do Benfica por 1 a 0, o que lhe deu o benefício do empate para a volta. Ao Peñarol, restava bater o adversário por qualquer placar para forçar o desempate.

A segunda partida foi em 17 de setembro, no Centenario, em Montevidéu, para mais de 56 mil pessoas. E os uruguaios bateram até demais nos portugueses: 5 a 0, fora o baile, com dois gols de Spencer, dois de Juan Joya e um de José Sasía. Como o critério do saldo de gols não valia para ida e volta, uma partida de desempate foi necessária.

O jogo extra aconteceu no dia 19 de setembro, novamente no Centenario. O público subiu para 60 mil torcedores, mas a partida foi muito mais sofrida que a anterior para os Carboneros. Sasía abriu o placar logo aos cinco minutos do primeiro tempo, mas a equipe não deslanchou. Ao contrário: sofreu o empate aos 35 minutos, com Eusébio. Agora sim, o saldo estava do lado do Peñarol. Mas o time uruguaio não pagou para ver e marcou 2 a 1 com Sasía, aos 40 minutos de bola. O resultado não foi mais alterado até o apito final e, logo depois dele, a festa tomou conta do campo. Pela primeira vez, a América do Sul chegava ao título.


Foto Arquivo/Peñarol

Real Madrid Campeão Mundial 1960

A Copa Rio Internacional não decolou no começo da década de 50 e foi descontinuada. A CBD organizou mais dois torneios internacionais na época — a Copa Rivadavia, de 1953, e a Copa Charles Miller, de 1955 —, sem sucesso. O torcedor só veria uma competição com a ousadia de apontar um clube campeão mundial em 1960.

Por meio da UEFA e da Conmebol, surgiu a Copa Intercontinental, com a fórmula mais simples possível: os vencedores da Copa dos Campeões Europeus (existente desde 1956) e da Copa Libertadores (existente desde 1960) se enfrentando em duas partidas, uma na América do Sul e outra na Europa. Em caso de empate na pontuação, um jogo extra seria disputado no continente em que fosse realizada a partida de volta. O torneio foi criado sem o apoio da FIFA, que, nos primeiros anos, tentou derrubar a iniciativa a qualquer custo. Porém, os secretários das confederações, Pierre Delauney e José Ramón de Freitas, ignoraram as ameaças e seguiram em frente.

Da Europa, o representante foi o Real Madrid, que sagrou-se pentacampeão do continente após derrotar o alemão Eintracht Frankfurt na decisão por 7 a 3. Apenas os espanhóis tinham o gosto da vitória na competição até aquela altura. Na América do Sul, a primeira Libertadores teve como vencedor o Peñarol, que, na final, superou o paraguaio Olimpia com 1 a 0 na ida e 1 a 1 na volta.

A disputa mundial teve início em 3 de julho de 1960, e a primeira partida foi realizada no Estádio Centenario, em Montevidéu. Quase 72 mil torcedores acompanharam craques como Cubilla, Spencer, Puskás e Di Stéfano. Mas tantos nomes não foram suficientes para fazer o placar sair do 0 a 0 no Uruguai. Tudo ficaria para a volta, na Espanha.

A segunda partida foi em 4 de setembro, no Santiago Bernabéu, em Madri, com 100 mil pessoas na arquibancada. Os gols — e o show — ficaram para este jogo. Logo aos dois minutos, Puskás abriu o placar. Aos três, Di Stéfano ampliou. Aos oito, Puskás marcou o terceiro e praticamente definiu o título. Mas os merengues não sossegaram. Aos 40, Chus Herrera fez o quarto, e, aos 14 do segundo tempo, Francisco Gento anotou o quinto. Ao Peñarol, restou salvar a própria honra e marcar o gol de honra aos 35 minutos, com Spencer.

A goleada por 5 a 1 não só deu o primeiro mundial ao Real Madrid, como também estabeleceu o recorde de maior placar de todas as decisões, jamais batido até os dias atuais.


Foto Arquivo/Real Madrid

Fluminense Campeão da Copa Rio Internacional 1952

Apesar das desistências dos campeões de Espanha, Inglaterra e Escócia, a primeira edição da Copa Rio Internacional, em 1951, foi bem-sucedida. A CBD e a Prefeitura do Rio de Janeiro repetiram a fórmula para 1952, desta vez sem observação da FIFA. Mas outros convites declinados comprometeram a segunda disputa. Itália e França juntaram-se ao bolo inicial dos europeus e não enviaram representante.

Outras localidades também impuseram dificuldades: a Argentina proibiu o Racing de jogar devido à rixa da época entre a AFA e a CBD. Já a Alemanha forçou o Stuttgart a desistir por conta de uma lei que proibia os clubes locais de disputar competições no exterior. Assim, o país foi representado pelo Saarbrücken, da região do Sarre, administrada então pela França. Essa equipe juntou-se a mais cinco estrangeiras, além de Corinthians e Fluminense. E seriam os próprios brasileiros os donos da festa, com a felicidade do título para os cariocas.

Mas não foi fácil a trajetória do Flu. A estreia no Maracanã foi com empate sem gols contra o Sporting, de Portugal. Na segunda rodada, o Tricolor enfrentou o Grasshoppers, da Suíça, e venceu por 1 a 0, gol marcado somente na etapa final. A desforra veio na terceira partida, contra o uruguaio e classificado Peñarol, em ótima vitória por 3 a 0. O resultado alçou o Fluminense à liderança do grupo A, com cinco pontos.

Na semifinal, o adversário foi o Áustria Viena. Em dois jogos, duas vitórias: a primeira por 1 a 0 e a segunda por 5 a 2. A vaga na decisão chegou com certa facilidade, e o último oponente foi o Corinthians. Os paulistas despacharam o Peñarol com uma partida apenas. Descontentes com a arbitragem e alegando hostilidade da torcida, os uruguaios solicitaram que a volta fosse remarcada para o Rio. Como a organização e o adversário não aceitaram, o clube abandonou a competição.

A final entre brasileiros foi decidida pelo fator local, pois as duas partidas foram no Maracanã. Logo na primeira, o Flu abriu 2 a 0 de vantagem, colocando uma mão na taça. E, na segunda, Didi e Marinho marcaram os gols do empate por 2 a 2, confirmando o título tricolor.

A conquista do Fluminense, embora importante, se perdeu ainda mais na lembrança dos torcedores em geral, se comparada à palmeirense de 1951. Isso ocorreu por uma soma de fatos: a Copa Rio de 1952 não atingiu o mesmo sucesso que a anterior; as várias desistências europeias, que diminuíram o nível; além da final caseira e o abandono uruguaio, que desvalorizaram a competição. Foram esses fatores que também fizeram a FIFA largar mão da ideia por quase meio século.


Foto Arquivo/Fluminense

Palmeiras Campeão da Copa Rio Internacional 1951

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Os anos 50 foram a redescoberta do futebol no mundo. Foram dez anos de paralisação internacional, entre a Copa de 1938 e os Jogos Olímpicos de 1948. Na Europa, somente alguns países arriscaram manter seus campeonatos em meio à Segunda Guerra Mundial. As coisas só começaram a voltar ao normal a partir do Mundial de Seleções em 1950, no Brasil.

Encantada pela organização, apesar das dificuldades, a FIFA logo acertou com a CBD uma versão clubes da Copa do Mundo. Nascia, então, a Copa Rio Internacional. A ideia inicial era convidar os 13 campeões nacionais dos participantes da Copa de Seleções, mas desistências e decisões técnicas baixaram o número para oito. Ou seis, já que o Brasil não tinha uma competição nacional e Palmeiras e Vasco (campeões paulista e carioca) foram indicados juntos. Essa indicação mudaria para sempre a história palmeirense.

Os participantes foram divididos em dois grupos, um no Maracanã e outro no Pacaembu. O Verdão ficou na segunda chave, junto com o francês Nice, o iugoslavo Estrela Vermelha e o italiano Juventus. Na estreia, o Palmeiras venceu o Nice por 3 a 0. Contra o Estrela, a vitória por 2 a 1 classificou antecipadamente o clube. Na rodada final, o Alviverde foi goleado por 4 a 0 pelo Juventus, perdeu a liderança e obrigou-se a viajar de São Paulo para o Rio de Janeiro.

Na condição de vice, com quatro pontos, fez a semifinal justamente contra o Vasco. No primeiro jogo, no entanto, os palmeirenses já mostraram sinal de força e venceram por 2 a 1. No segundo jogo, o empate por 0 a 0 selou a vaga na decisão.

Na final, o reencontro com o algoz da Itália, que, na fase anterior, despachou o Áustria Viena no Pacaembu. Mas o Palmeiras não deu nova chance ao azar e, na primeira partida, tratou de abrir vantagem ao vencer por 1 a 0. Na segunda partida, diante de 100 mil torcedores no Maracanã, o Verdão teve que suar. O time ficou duas vezes atrás no placar, tendo que buscar dois empates. Primeiro com Rodrigues, depois com Liminha. O 2 a 2 serviu para o Palmeiras comemorar seu maior título, tratado como mundial pelas manchetes dos jornais da época.

A conquista gera controvérsia até hoje, pois ela ficou esquecida no tempo durante décadas. Desde 2001, dirigentes palmeirenses trabalhavam para que a Copa Rio fosse reconhecida como mundial. A resposta positiva veio em 2007, mas a FIFA voltou atrás meses depois, reclassificando-a como intercontinental. E, desde então, ela virou alvo de muita discussão e, principalmente, corneta dos rivais.


Foto Arquivo/Agência O Globo

Especial Mundiais - Uma linha do tempo complexa


Desde que o mundo é mundo, a sociedade possui, talvez por instinto, a necessidade de eleger um líder. Alguém que responda e decida por todos o que é melhor para a convivência e evolução mútua. No futebol, não é diferente. Aliás, o esporte nasceu (assim como todos os outros) com o objetivo de qualificar o melhor, seja equipe ou atleta.

A primeira partida oficial de futebol data de 1871, na Inglaterra. No mesmo ano, nasceu a FA Cup. Em 1873, surgiu a Scottish Cup. A ilha britânica era o único lugar onde a bola rolava, e um encontro entre os campeões das copas era o máximo alcançável para a época.

Assim, temos aí um primeiro esboço de uma competição “mundial”, enquanto o resto do mundo ainda descobria o encanto da bola de couro. Logicamente, a “FA versus Scottish” não tem nada que lembre um mundial, embora os vencedores se declarassem como tal.

Até a virada para o século XX, toda a Europa e parte da América já batia sua bolinha. E, em 1904, nasceu a FIFA. E, quase junto com ela (em 1906), a primeira ideia de uma competição mundial. Mas ela não saiu do papel, pois o entendimento de alguns dirigentes da época era de que a entidade deveria cuidar exclusivamente de seleções nacionais (através do Torneio Olímpico, a partir de 1908), enquanto os clubes eram tarefa para as federações nacionais.

A FIFA não executava nenhuma competição mundial de clubes. No começo do século XX, duas tentativas independentes tiveram notoriedade, antes mesmo da criação: o Troféu Sir Thomas Lipton (entre 1909 e 1911) e a Copa Mitropa (entre 1927 e 1940). Todavia, existe um problema aí. Esses torneios eram exclusivos para europeus, e desde 1916 a bola era organizada na América do Sul pela Conmebol, a primeira entidade criada para atender a um continente. E foi ela que, em 1948, deu sinal verde para o Campeonato Sul-Americano, o primeiro esboço de um torneio internacional do Novo Mundo. Ainda não existia uma entidade europeia. Em 1949, a criação da Copa Latina daria impulso para a fundação da UEFA em 1954.

E o que o Sul-Americano e a Copa Latina possuíam em comum? Além de nascerem após a 2ª Guerra Mundial, foram elas o embrião da primeira competição verdadeiramente mundial, que fez clubes atravessarem um oceano: a Copa Rio Internacional, em 1951. Vislumbrado com a organização brasileira da Copa do Mundo em 1950, Stanley Rous, vice-presidente da FIFA, costurou com a CBD a organização de uma copa do mundo versão clubes, com campeões nacionais. Sua organização foi aprovada por Jules Rimet, o presidente, mas um ponto negativo foram as desistências de Espanha, Inglaterra e Escócia.

A competição continuou para 1952, enfraquecida com mais desistências e sem a bênção da FIFA. A edição que seria a de 1953 virou um Torneio Rio-SP com Paraguai, Escócia e Portugal (a Copa Rivadavia Corrêa Meyer). O fato de o Brasil ter tido mais representantes que os outros (dois em 1951 e 1952, e quatro em 1953) também contribuiu para a ideia ser enterrada pelos 43 anos seguintes.

Em 1954, surge a UEFA. No ano seguinte, ela concebe a Copa dos Campeões Europeus (inspirada em todos os embriões já citados). Esta, por sua vez, inspirou a Conmebol a criar a Copa Libertadores em 1960. E, logo de cara, as entidades conversaram para colocar seus campeões frente a frente, em jogos de ida e volta. Nascia, então, a Copa Intercontinental. Sem a organização da FIFA, que, apesar de fechar os olhos para o certame, tentou durante anos a inclusão das outras quatro confederações nele, sem sucesso. Mas o futebol ainda engatinhava nesses lugares. A Concacaf criou seu torneio em 1962, a CAF em 1965, a AFC em 1967 (parando em 1971 e voltando em 1985) e a OFC em 1987 (voltando depois em 1999).

A primeira tentativa de inclusão na Copa Intercontinental foi com Stanley Rous, em 1967. A segunda foi em 1970. Ambas apoiadas nos pedidos de Concacaf, CAF e AFC. A terceira tentativa foi em 1974, já com João Havelange. Em todas elas, UEFA e Conmebol rechaçaram a ideia em prol da qualidade técnica. A tentativa derradeira foi em 1993 e, desta vez, a ideia avançou, sendo aprovada pelo comitê executivo da FIFA em 1996. À parte da Copa Intercontinental, a entidade teria seu próprio Mundial, em janeiro de 2000.

O Mundial da FIFA teve vida curtíssima, caindo por terra na edição cancelada de 2001. O pé de guerra entre FIFA e UEFA/Conmebol duraria até 2004, quando ambas cederam e uniram forças por meio da Toyota, o famoso patrocinador da Copa Intercontinental. Em 2005, nasceu o Mundial de Clubes, que sucedeu tudo e, enfim, expandiu a disputa europeia e sul-americana para todos os outros continentes.

No formato mata-mata, a FIFA manteve o Mundial de Clubes até 2023, quando o substituiu por dois novos torneios: a Copa Intercontinental e a Copa do Mundo de Clubes.

A Copa Intercontinental da FIFA estreou em 2024, em um formato similar ao anterior, com duas diferenças: no Mundial de Clubes, os campeões europeu e sul-americano estreavam na semifinal, enquanto que, na nova competição, o representante da UEFA já está na decisão e o da Conmebol começa nas quartas de final. O nome pode até soar familiar, mas em nada tem a ver com o antigo certame.

Em 2025, a FIFA lançou uma terceira versão do Mundial, que acontece a cada quatro anos e com 32 equipes, tal qual a Copa do Mundo de seleções. O anúncio da Copa do Mundo de Clubes foi feito em 2022, com aprovação do formato realizado em 2023. Os campeões continentais dentro de cada ciclo quadrienal terão direito a disputar o torneio, além de times que podem se classificar via rankings de confederações. A UEFA tem direito a 12 vagas, contra seis da Conmebol, quatro cada uma de Concacaf, CAF e AFC, e uma da OFC e do país-sede.

E como fica a Copa Rio nessa história? Para muitos, essa ficou esquecida no tempo. Porém, é inegável que esta copa foi o primeiro tiro, o estopim para o futebol importar aquela necessidade que nasceu junto com a sociedade: a de eleger um líder, de apontar um melhor.