Copa do Brasil Feminina: como surgiu e a primeira edição

A criação da Copa do Brasil de Futebol Feminino em 2007 marcou um ponto de virada para o futebol feminino no Brasil, que até então enfrentava uma trajetória marcada por abandono institucional, falta de investimento e ausência de competições regulares em nível nacional. Embora seja comum dizer que não existia nenhuma competição nacional até então, houve sim tentativas anteriores de organizar campeonatos que abrangessem o país inteiro, mas com curta duração e sem continuidade.

Entre essas tentativas destacam-se a Taça Brasil de Futebol Feminino, entre 1983 e 1988, o Torneio Nacional, em 1990 e 1991, o Campeonato Nacional, entre 1994 e 2001, e a Liga Nacional Interclubes, promovido pela extinta LBF (Liga Brasileira de Futebol Feminino) entre 2006 e 2007. No entanto, nenhuma dessas iniciativas se consolidou como um torneio nacional estável, com calendário garantido e apoio institucional duradouro.

Em 2007, pressionada pela FIFA e pelo Estatuto do Torcedor, a CBF decidiu criar a Copa do Brasil de Futebol Feminino. A entidade foi motivada não apenas pelas recomendações da entidade internacional e do código, mas também pela crescente visibilidade de jogadoras brasileiras no exterior, como Marta, Cristiane e Formiga, que começavam a se destacar na seleção e em clubes fora do país. A criação do torneio foi uma resposta a esse cenário, integrando os diversos estados e dando oportunidade para equipes femininas de todo o país.

Esse impulso também se apoiava nos bons resultados da seleção brasileira. Em 2004, o Brasil conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, perdendo a final para os Estados Unidos apenas na prorrogação. Três anos depois, em 2007, o país viveu um de seus maiores momentos no futebol feminino ao vencer o ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e chegar à final da Copa do Mundo, disputada na China, quando perdeu para a Alemanha. Esses resultados reforçaram a ideia de que o Brasil tinha talento e potencial de sobra, mas carecia de estrutura e investimento para consolidar sua força na modalidade.

A competição foi organizada em um formato que misturou mata-mata e quadrangulares, com 32 clubes de várias regiões do país. Os confrontos eram disputados em jogos de ida e volta, e os critérios de classificação seguiam o modelo tradicional das competições eliminatórias. Pela primeira vez, equipes femininas puderam disputar um torneio nacional com o selo oficial da CBF, o que representava um pequeno avanço frente ao cenário de abandono que a modalidade vinha enfrentando há décadas.

Naquela edição inaugural, o título ficou com a equipe do Mato Grosso do Sul/Saad, que surpreendeu com um elenco forte e bem estruturado, dentro de uma parceria do clube de São Paulo com patrocinadores sul-mato-grossenses. Na final, enfrentou o Botucatu, de São Paulo. Em partida única, disputada em Brasília, o Saad empatou por 1 a 1 no tempo normal e venceu por 5 a 4 nos pênaltis, conquistando o título da primeira Copa do Brasil de Futebol Feminino.

(Time do MS/Saad, campeão da Copa do Brasil Feminina de 2007)

A realização da Copa do Brasil Feminina teve grande importância para o desenvolvimento da modalidade. Ela funcionou como um instrumento de estímulo aos clubes, federações estaduais e patrocinadores, além de abrir caminho para a profissionalização e estruturação de um calendário mais sólido. Seis anos depois, em 2013, foi organizada a primeira edição do Campeonato Brasileiro. A Copa do Brasil seria encerrada em 2016, substituída pela Série A2 do Brasileirão em 2017.

A volta da Copa do Brasil Feminina

Em 2025, foi anunciada a volta da Copa do Brasil, nove anos após sua descontinuidade, em um novo momento de crescimento do futebol feminino brasileiro, que foi novamente prata nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, e sede da Copa do Mundo Feminina de 2027. A história iniciada em 2007 terá novos capítulos, marcando ainda mais o processo de integração nacional e valorização das atletas.

(Time do MS/Saad, campeão da Copa do Brasil Feminina de 2007)

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